Atrás do Espelho

Wednesday, November 26, 2008

vazio

Nunca entendi amor, não assim, puro, em essência. Só entendi o amor pela pele das mulheres com quem me deitei. O amor sempre me foi pernas e coxas, beijos e amassos. Amor sempre foi desejo e angústia.
Nunca entendi que amor estava por trás de tudo isso. Estava não nos seus olhos, mas naquele escuro mistério escondido no olhar. Estava não nos fios de cabelo escorredo pelos meus dedos, mas no espaço que aquele cheiro deixava entre sua nuca e meus sentimentos. Estava não na pele de suas coxas, mas no pequeno espaço entre meus dedos e sua pele.
Nunca vi que o amor estava ali, logo ali, por trás de tudo aquilo que eu julgava ser ele próprio. Habitando o vazio que a matéria escondia. O amor só é possível no vazio e eu fique tanto tempo a procurá-lo naquilo que me parecia mais próximo, naquilo que se apresentava unicamente aos meus olhos. E eu, que nunca pude desconfiar que o amor não cabe no palpável, que é preciso criar o vazio para que ele exista.
É preciso enxergar o sutil, tocar o invisível com cuidado, senti-lo não na palma da mão, mas no espaço entre os dedos. É preciso esquecer as referências daquilo que já se chamou amor, pois o amor não cabe em conceitos. Deixá-lo existir independente de nossa vontade.
A mim assim aconteceu. O amor apareceu. Não quando eu quis que se apresentasse, mas quando esqueci. Só se fez quando esvaziei meu olhar e pude enxergar o que queria se apresentar. Antes disso, só poderia ver o conhecido.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal.

6:02:00 AM  

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